Um texto belíssimo da querida amiga Eliana Teixeira.
Cafundó não existe mais, a não ser em minha lembrança.
Cafundó era um lugarzinho na ribanceira de um córrego que passava no fundo do quintal da nossa casa, hoje só escombros escondidos atrás da casa nova.
Em um dos Natais da minha infância, ganhei de presente um livro contando a história da aparição de Nossa Srª de Fátima para os três pastorinhos.
Fiquei profundamente impressionada com o milagre, com a sorte dos eleitos e, com toda a fé que meu coraçãozinho pôde amealhar, desci a ribanceira musguenta do córrego, ao pé de um bambuzal, e cavei uma gruta, coisa de dois palmos de altura, um de fundura, e esculpi em barro o que parecia ser, para mim, a imagem de N. Srª de Fátima.
E todas as tardes eu ia para esse meu lugar secreto, meu Cafundó, nunca compartilhado com ninguém. Segredo meu e da Virgem. Às vezes ouvia ao longe minha mãe me chamando. Mas éramos tantos filhos que eu sabia que, se eu ficasse caladinha, ela logo se esqueceria de mim.
E o que eu fazia no meu Cafundó? Um único e precioso pedido: Que N. Srª de Fátima aparecesse para mim também.
Muito tempo se passou. Eu mesma tratava de justificar os porquês de sua não aparição: desrespeitei minha mãe, falei palavrão, bati na minha irmã...os pecadilhos de toda criança ao se confessar.
Mas uma noite, ah, que noite, eu sonhei! Sonhei que um lindo botão de rosa vermelho caía vagarosamente do espaço, girando, a coisa mais linda que jamais tinha visto.
Aí, de repente, apareceu o rosto de N. Senhora De Fátima sorrindo prá mim. Era o mesmo rosto da imagem que tínhamos dela em casa. Ela sorriu, não disse nada, e se foi.
Cafundó não existe mais. Parte do quintal tornou-se uma avenida, o córrego foi canalizado e eu não creio que N. Srª vá aparecer para mim novamente. Eu não tenho merecimento. Continuo crendo nela com toda a fé que consigo ter, mas tenho sérias dúvidas sobre a existência de Deus.
Então, se algum dia eu me tornar alguém importante, _ chance remotíssima, com a agravante que eu não faria o menor esforço para sê-lo _ não será possível colocar uma placa de bronze em Cafundó, para contar parte da história de quem fui.
E, se esta narrativa não for lida por ninguém, talvez, no momento da minha morte, eu teatralmente diga :- Cafundó, Rosebud de minha infância... E ninguém compreenderá; Somente a Virgem e eu.
Em um dos Natais da minha infância, ganhei de presente um livro contando a história da aparição de Nossa Srª de Fátima para os três pastorinhos.
Fiquei profundamente impressionada com o milagre, com a sorte dos eleitos e, com toda a fé que meu coraçãozinho pôde amealhar, desci a ribanceira musguenta do córrego, ao pé de um bambuzal, e cavei uma gruta, coisa de dois palmos de altura, um de fundura, e esculpi em barro o que parecia ser, para mim, a imagem de N. Srª de Fátima.
E todas as tardes eu ia para esse meu lugar secreto, meu Cafundó, nunca compartilhado com ninguém. Segredo meu e da Virgem. Às vezes ouvia ao longe minha mãe me chamando. Mas éramos tantos filhos que eu sabia que, se eu ficasse caladinha, ela logo se esqueceria de mim.
E o que eu fazia no meu Cafundó? Um único e precioso pedido: Que N. Srª de Fátima aparecesse para mim também.
Muito tempo se passou. Eu mesma tratava de justificar os porquês de sua não aparição: desrespeitei minha mãe, falei palavrão, bati na minha irmã...os pecadilhos de toda criança ao se confessar.
Mas uma noite, ah, que noite, eu sonhei! Sonhei que um lindo botão de rosa vermelho caía vagarosamente do espaço, girando, a coisa mais linda que jamais tinha visto.
Aí, de repente, apareceu o rosto de N. Senhora De Fátima sorrindo prá mim. Era o mesmo rosto da imagem que tínhamos dela em casa. Ela sorriu, não disse nada, e se foi.
Cafundó não existe mais. Parte do quintal tornou-se uma avenida, o córrego foi canalizado e eu não creio que N. Srª vá aparecer para mim novamente. Eu não tenho merecimento. Continuo crendo nela com toda a fé que consigo ter, mas tenho sérias dúvidas sobre a existência de Deus.
Então, se algum dia eu me tornar alguém importante, _ chance remotíssima, com a agravante que eu não faria o menor esforço para sê-lo _ não será possível colocar uma placa de bronze em Cafundó, para contar parte da história de quem fui.
E, se esta narrativa não for lida por ninguém, talvez, no momento da minha morte, eu teatralmente diga :- Cafundó, Rosebud de minha infância... E ninguém compreenderá; Somente a Virgem e eu.
Muitos lerão sim, Eliana, e ficará na memória pra sempre quando ouvirem esse nome: Cafundó.