terça-feira, 22 de julho de 2014

Uma Linda Mulher - Parte 3 - Talarico

...Continuação
               

      Depois do choque da gravidez, depois da festa de Talarico como o mais novo pai do pedaço, hora de marcar consulta com um obstetra. Nunca em sua vida imaginara algo parecido, mas uma amiga indicou um de confiança e Ana marcou para a mesma semana.
   
      Talarico não se continha de tanta felicidade, e Ana, agora acuada, começava a se trancar em seus pensamentos.

      Talarico... Homem lindo, 1,90 m, moreno, cabelos grisalhos, olhos negros, sorriso perfeito, voz firme e... Canalha. Aos 49 anos ainda solteiro! Isso devia ter uma explicação. Talarico era um homem do mundo, que não se prendia a ninguém, que não criava raízes em lugar algum, que escolheu ser livre para voar onde sua imaginação alcançasse. E o filho? Como será que se portaria como pai e como marido? Ana sabia que ao menor sinal de descaso ou de abandono largaria tudo e voltaria para sua vidinha medíocre e solitária. Não tinha tolerância e nem paciência para ficar tentando e recomeçando, então sempre tinha uma pulga atrás da orelha com essa relação.

      Ana sentia, desde o primeiro olhar, uma irresistível atração por ele, tanto é que não mais se separaram. Muito carinhoso, atencioso, um verdadeiro gentleman. Era isso que sabia de Talarico. Como pode engravidar de alguém que mal conhecia? Mas que importância teria agora, já que viveu tantos anos com pessoas que pensava que conhecia, mas que só a enganaram, mentiram, ignoraram, maltrataram? Na verdade nunca conhecemos as pessoas, ou as pessoas nunca se deixam conhecer.

      Talarico, apesar do pouco tempo que o conhecia, não escondia como era e a pessoa ao seu lado, por bom senso, que o aceitasse como tal. Nisso ele era verdadeiro.

      No dia da consulta, estava mais ansioso que Ana, que continuava presa em seu silêncio.

      No consultório, quatro mulheres antes de Ana aguardavam ser chamadas. Enquanto isso, Ana, ainda calada, foi tomada de uma angústia e começou a chorar compulsivamente. Talarico não entendia nada e as mulheres que aguardavam também ficaram preocupadas, a ponto de perguntar a Talarico se estava tudo bem. Ele apenas fez um gesto afirmativo e carinhosamente encostou a cabeça de Ana em seu peito, alisando seus cabelos e beijando-lhe a testa.

      Era inevitável, Ana se lembrava da infância, e o que mais queria naquele momento eram suas bonecas. A ideia de que o médico iria tocá-la deixava-a apavorada ao mesmo tempo em que se enternecia com o fato de que agora um bonequinho de verdade estava em seu ventre.

      Acuada, foi se encolhendo cada vez mais no peito de Talarico que era só carinhos com ela. Estava realmente apaixonado por Ana e por seu filho.

      Já Ana tinha muita dificuldade de dizer "eu te amo". Raríssimas vezes ousou falar sobre esse assunto e nunca conseguiu se entregar de corpo e alma a ninguém. Como alguns deles diziam: "você se basta!". O medo de ser rejeitada, de ser excluída, ignorada, o medo de sofrer tudo de novo era mais forte do que qualquer sinal de entrega, de amor.

      Tudo certo durante a consulta, tudo certo com o bebê e voltaram para o apartamento.

      Pensava muito em sua avó e sua madrinha e algo não lhe saía da cabeça: quando, ainda adolescente, quando aparecia com algum namorado sua mãe lhe inundava com perguntas sobre a família do moço, de onde eram, como se chamavam etc. Pelo menos a mãe de Ana ficava com medo de um incesto, mas tinha a ingenuidade de pensar que a filha lhe contava sobre todos os namorados. Isso deixava Ana apavorada. E logo se lembrou da investigação minuciosa que fizera com Talarico e a certeza de que não precisava se preocupar.

      Depois de muito pensar decidiu não mudar de país; Não iria morar com Talarico; não se casaria com ninguém.Teria o bebê e continuaria como sempre fora, sozinha. Outra fuga, outro recuo, preferia ficar trancada em seu mundo do que tentar compartilhar uma vida a dois, se entregar numa família, quem sabe, feliz.

      Para Talarico isso foi um choque, mas passado o momento ele acabou aceitando. Afinal ele também sabia que não duraria muito esse relacionamento. Melhor viverem em casas separadas, quer dizer, em países diferentes. Voltaria sempre que possível e quando o bebê nascesse estaria por perto.

      E assim fizeram... O tempo passou e Ana estava prestes a entrar no nono mês. Talarico já estava por perto e muito, muito feliz...

Continua...

Texto publicado em 09/11/2011 - Editado


8 comentários:

  1. Eu sempre disse que vc deveria escrever mais e mais!!!
    E deve mesmo...vc é ótima, ótima!
    Giuseppe

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  2. Opinião meramente ilustrativa.

    A Ana tem que se libertar dos traumas de infância. Já que agora vai ser mãe, penso que deveria pensar mais no futuro do que se martirizar com um passado triste, que só fez mal a ela. E reviver isso diariamnete deve ser muito doloroso.
    Tire o cemitério de dentro da cabeça da Ana.
    Coleque a tecla FODA-SE no mode ON.
    E deixe a Ana ser feliz.
    Quem sabe num futuro outro Talarico apareça. Existem tantos por aí!!

    KK

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  3. Giuseppe, meu querido...
    Sua opinião é sempre tão importante pra mim, que mais uma vez eu agradeço, por tudo, muito obrigada!
    Beijosssss

    Anônimo KK
    Muito obrigada pela gentileza e pela força que sempre me deu.
    Te agradeço também, sempre!
    Beijossssss

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  4. Oi Anne!
    Menina, que suspense ficou no ar!rss Nem sempre é fácil cortar as amarras com o passado, não vai ser diferente com Ana. Que ela encontre sua paz, principalmente o bebê vai precisar.
    Beijinhos e tudo de bom!

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  5. Adoro o jeito que escrever e nos envolves, desejando logo ver o que vai acontecer...Legal! beijos,chica

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  6. Clara,vai fazer um livro desse romance?Uma história muito bem escrita,que prende nossa atenção!Estou gostando muito e aguardo os próximos capítulos!Bjs,

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  7. Ela ainda não conseguiu se livrar do passado que ainda está muito presente.Aguardamos...
    Beijos.

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  8. Demorei... mas vim ver o que você aprontou com a Ana! Mais sofrimento... você vai curá-la de seus traumas? Ela é tão bem resolvida para tanta coisa merece ser curada rsrsr
    Excelente, Clara querida!
    Girassóis nos seus dias. beijos

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