sábado, 21 de dezembro de 2013

Até Ano Que Vem!


E lá vem o Natal! E lá vem o tumulto! E lá vem... Bem, ele chegou... O fim do ano chegou!


Desejo a todos muita paz, sabedoria, paciência, tolerância...


Responsabilidade, bom-senso, inteligência...


Fraternidade, autoestima, relevância...


Caridade, aceitação, perseverança...


Respeito, amor, abundância...


E que tudo isso se estenda por todo o ano novo!


Não se esqueçam de agradecer, por tudo!


Nos vemos só em 2014!


Até lá então... saúde, fartura, FÉ, harmonia e juízo!




quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A Praça


Esses dias tenho ficado sentada no banco da praça, observando tudo. Quer dizer, fico sentada e não consigo ser indiferente às coisas que acontecem a minha volta. Poderia ler um livro, mas não conseguiria me concentrar com tanto movimento me chamando a atenção.

Na praça central de minha cidade, que por sinal é linda, tem uma concha acústica que vez ou outra a Banda Marcial dá um espetáculo, aos domingos. Domingo é dia de dar voltas na praça, andar de trenzinho, ir à missa, comer churros e comprar aquelas bolonas gigantes. Tem também as bexigas voadoras que as crianças sempre deixam escapar só para ver a altura que ela alcança. Depois choram,  lamentando ter perdido a magia de segurar algo que voa lá em cima....

Praça central de Franca/SP-Blog Simples e Clara
Praça de Franca e a concha acústica ao fundo.

Bem, voltando à praça, nessa concha acústica, todos os dias no mesmo horário, uma senhora canta para quem quiser ouvir, várias músicas. Não dá para decifrar qual música, mas acho que é sertaneja, caipira, das antigas. E ela fica num entusiasmo, canta, levantando as mãos, fazendo firulas com a voz, com seu microfone que dá eco até o bairro mais distante do centro da cidade. Nunca vi ninguém reclamar dela. Canta feliz e não ganha aplausos. Apenas os pombinhos lhe proporcionam uma revoada, cada vez que ela solta um grave mais alto, ou um agudo que dá microfonia, acho que de propósito, só para ser olhada e, quem sabe, admirada... Ou aplaudida...

Hoje ela estava com um violão, mas mal dava para ouvir a melodia dedilhada. Apenas sua voz, ora em falsete, ora num grave como se estivesse dando bronca em alguém. Mas feliz. Como sempre, feliz!

Um picolezeiro, aproveitando a sombra das árvores, se sentou num dos bancos, do lado do que eu estava, e começou a filosofar: "É, ela é que é feliz... Canta, não liga pra ninguém, não dá bola se não a escutam... Apenas canta e é feliz. Enquanto muita gente amarga fica sofrendo com besteiras, ficam doentes por coisa à toa, a senhora espanta os males e canta... Queria ter a coragem dela e subir lá e cantar também...". Eu apenas acenei com a cabeça e continuei a observar a movimentação.

Depois o picolezeiro se foi e eu também me fui, cuidar da vida.

Como é interessante o ser humano, cada um cada um, cada um uma coragem, cada um nos enxergando de um jeito, cada um cumprindo suas obrigações da melhor forma possível. Enquanto isso, a senhora da concha acústica dá seu show, para quem quiser ouvir.... E aplaudir.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A Dureza de Ser Pobre


Sim, já não basta a dureza de ter que fazer malabarismos para dar conta de tudo, pobre que dá uma melhoradinha já é chamado de metido.

Alguns se alegram com essa melhora, outros ficam sem entender, outros ficam curiosos para saber como é que conseguiu melhorar e outros simplesmente o chamam de metido. Que dureza!

Ontem tive o prazer de ir a um restaurante bom, boa comida, boa companhia, muitos amigos novos, e uma amiga, sabendo de minha proeza, simplesmente me chamou de metida. Ah, gente, será?

Já tive pouco, já tive o suficiente, já tive muito, já tive bem pouco e já tive quase nada... Aprendi a me adaptar com a realidade e isso nunca me fez sofrer. O que me fazia sofrer era o medo de não poder contentar meus filhos com coisas que eles tinham vontade de comer. Isso é de doer o coração... Quem é mãe sabe como dói a gente ver um filho ficar com vontade das coisas. Mas mesmo passando apertos, isso nunca aconteceu, graças a Deus.

E agora que eu, digamos assim, recomecei a sair da toca, a ver gente, a frequentar lugares de lazer, de conversar com pessoas e não ficar só teclando, ainda tenho que ouvir que fiquei metida... Por ela ser minha amiga, a gente se entende e eu não me aborreço com isso, mas é chato saber que as pessoas (não ela) podem pensar isso da gente.

É o ser humano com todas suas características e a gente aprende a conviver e aceitar como são, assim como eu quero que me aceitem como sou. Simples. Só que não!

Bem, ninguém paga minhas contas e nem sequer se preocupa se preciso de alguma coisa ou não. Então, vida que segue! Cada um cuidando da sua.

Boa semana para todos!




quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Princesinha Rebelde


Participando da Blogagem Coletiva da M@myrene - 22ª Edição. 

      - Mas que droga de calçada mal feita essa! - reclamou Maria Divina, caminhando com dificuldade na calçada, quando ia até a padaria, como fazia todas as tardes, comprar pão para seu velho Tobias. - Tinha que ter uma lei exigindo que essas pessoas construam calçadas decentes!

      Como sempre fazia, por longos anos, Divina parou no semáforo, mesmo estando vermelho para os carros, olhou para os dois lados e só depois atravessou a rua, ajudada por sua bengala. Do outro lado, como faz desde a semana passada, ficou olhando por um bom tempo para um outdoor com uma propaganda de uma rede de lojas de maquiagem. A foto é belíssima e o carro chama a sua atenção. Um Dodge cor-de-rosa, com três garotas com lábios bem vermelhos. Divina suspira e segue seu rumo.

      Na lembrança, enquanto caminha até chegar à padaria, bons tempos de juventude. Juventude transviada, James Jean, velocidade, rebeldia... Tudo o que ela sempre quis mas nunca teve a ousadia de enfrentar a fúria de seu pai e ser como uma daquelas jovens de boca vermelha e olhar sensual. Era a princesinha da família. Seu pai a resguardava como um diamante, praticamente colocando-a numa redoma invisível, sem que ninguém pudesse tocá-la. Mas tudo foi em vão...

      Robson, seu único e grande amor, terno e eterno, que teve que abandonar depois de namorar escondida durante quase um ano. Mal se viam e a paixão era avassaladora. Até que um dia não resistiu e se entregou de corpo e alma. Engravidou. Ele sumiu. Ela se casou com o primeiro que apareceu, por ordem de seu pai: Tobias. O homem mais pacato, tedioso, metódico e nojento que ela já havia conhecido. Teve um aborto espontâneo e não teve mais filhos. Por sorte ou por azar, pois pelo menos agora ela teria companhia mais agradável para viver a velhice. Talvez já tivesse netos crescidos, casados e bisnetos para que pudesse enxergar e se conformar que a vida tem sua beleza, apesar das obrigações impostas por outras pessoas.

      Divina comprou o pão, voltou pelo mesmo caminho, parou em frente ao outdoor, olhou, suspirou, esperou o semáforo ficar verde para pedestre, atravessou com passos apressados, reclamou da calçada do vizinho, entrou em casa, fez o café, colocou a mesa, partiu o pão, passou manteiga e chamou seu velho:

      - Bem, vem, já tá pronto!

      - Tô indo, véia... Tô indo...

      E a vida continuava, como tinha que ser, apesar dos pesares.

      Fim.


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Como Virá o Meu Natal

Natal-Presépio-Blog Simples e Clara

Para encerrar o ano, cheio de amor e fraternidade no coração, participo da Blogagem Coletiva da amiga Rosélia, essa pessoa iluminada, que por onde passa irradia luz e espalha palavras lindas. Vamos participar? Cliquem AQUI!

Há alguns anos que o Natal em minha casa tem sido simples. Nada de exageros ou comidas que fujam do nosso cotidiano. Apenas meus filhos e eu.

Mesmo assim, são Natais maravilhosos, com alegria, com amigo oculto e esconderijo de presentes. Nós fazemos nossa festa. Ficamos juntos na ceia, que geralmente é lá pelas dez da noite, depois eles vão para a casa do pai deles e eu fico em casa, sozinha.

Podem pensar, mas você fica sozinha? Não! Nunca estou sozinha! Deus sempre está comigo todos os dias do ano!

Às vezes fazemos escolhas que chocam um pouco a normalidade de gente que acha que muita gente por perto é sinal de felicidade, de família. Pode ser que sim, mas não para todos isso funciona. Estou ótima como estou e nos divertimos muito!

Não é por falta de convites eu ir a lugares e comemorar com aquela abundância e aquela hipocrisia costumeira. Foi uma escolha minha e estou feliz com ela.

Que cada um saiba aproveitar o Natal como ele tem que ser de verdade, com o nascimento do menino Jesus, muita paz, harmonia, compaixão, perdão, mas não só no dia vinte e cinco, mas nos trezentos e sessenta e cinco dias do ano.

Um Feliz Natal a todos!


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Vida de Malabares


Por esses dias, andando de ônibus, de manhã, entra um rapaz jovem com duas crianças, seus filhos, creio eu. Uma menina com seus quatro anos e um menino, um pouco mais novo. O rapaz estava vestido de forma simples, com roupas velhas e um pouco sujas, com um chapéu coco e carregava consigo alguns malabares na cor verde cítrico. As crianças estavam limpinhas, bem penteadas, roupas passadas, sapatos limpos, enfim, bem cuidadas. Pareciam que, apesar de bem pequenos, já estavam acostumados a "surfar" no ônibus pois nem ficaram com medo de cair quando o ônibus começou a andar. O pai carregava uma mochila cor de rosa, que deveria ser das crianças e outra sacola, com certeza com pertences seus.

Primeiro passaram as crianças por baixo da catraca, o pai orientou-os a se sentarem no primeiro banco vazio. Depois passou as mochilas e depois ele passou. Colocou as mochilas num canto, colocou o filho num outro banco, sozinho e se sentou onde a filha estava, colocando-a em seu colo. Ficaram quietos até o ponto em que desceriam. Um ponto antes o pai se levantou, pegou as mochilas, pegou na mão dos pequenos e se foi.

Fiquei pensando... De um jeito ou de outro o homem tem que se virar. Que bom ele usar o talento artístico para poder sustentar sua família, e mesmo antes de começar, tem o cuidado de deixar as crianças em algum lugar seguro. Pela mochila pensei que ele levaria os filhos a uma creche ou à casa de alguém. Não sei.

Para muitos motoristas esses artistas de rua não passam de uma amolação no trânsito, mas cada um tem sua história, suas necessidades, seu talento, seus sonhos, sua vida para continuar sendo vivida da melhor forma possível.

Só quem passa por situações de falta de alguma necessidade básica como um alimento, por exemplo, sabe como é difícil ganhar alguns trocados e fazer esses trocados se multiplicarem para sustentar muitas bocas famintas. Imagina você com seus filhos, chegar em casa, abrir a geladeira e só ver água e um chuchu. Consegue imaginar isso? Mesmo assim ainda criticam, xingam, fecham os vidros, saem cantando pneus quando eles vão de carro em carro pedir somente umas moedinhas.

Nesse mundo violento todo o cuidado é pouco, mas se o cidadão está num semáforo tentando ganhar a vida, por motivos particulares ou então por não poder esperar dias ou meses para arrumar trabalho melhor, pois a fome é diária, acho pouco provável que seja algum bandido ou vadio que só quer vida boa com os bens dos outros. Está ali, no sol quente, mostrando sua arte, sem incomodar ninguém...

Nunca concordei em ficar dando esmolas, mas nesse caso não é esmola e sim um agrado, um pagamento mínimo do mínimo por um show particular de alguns minutos que um artista gentilmente lhe oferece, em troca de uma vida digna que ele está buscando, para sua família.


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Com Que Mala Eu Vou?

Participando da Blogagem Coletiva da M@myrene
Vamos, gente, vamos escrever e participar!

      O dia estava quente, abafado, sol escaldante, asfalto soltando aquele mormaço de derreter sola de sapato e Gabriela indecisa, sem saber o que levar na viagem de férias. Depois de mais de vinte anos, depois de ser praticamente dona de casa e mãe, depois sofrer horrores, chorar pelos cantos, definhar, adoecer, finalmente conseguiu se libertar do passado carrasco que a acompanhava.

      Uma depressão deixou-a trancafiada em casa, perdendo parte de sua vida, apenas olhando as paredes descascadas de sua casa e assistindo TV, de preferência aqueles programas dramáticos que discutem a vida sofrida das pessoas. Gabriela viajava naqueles programas, chorava, sofria junto e queria, mentalmente, resolver a vida de cada um. Sofrer para quê, pensava ela, não vale a pena!

      Um dia, acordou meio atravessada, com a avó atrás do toco, chutou o balde e mandou todo mundo pras cucuias. Não queria mais ficar enclausurada num mundo só seu, com um mundo tão maravilhoso a sua volta, chamando-a, sussurrando em seus ouvidos, acenando e sorrindo, seduzindo-a dia a dia até que aceitou o convite.

      Primeira providência há seis meses: comprar passagens para uma praia paradisíaca, para ir sozinha. Segunda providência: se acabar na academia e na dieta detox! Eliminar tudo o que não lhe pertencia. Terceira providência: renovar o guarda-roupas. Pronto, teria tempo suficiente para se ajeitar.

      Os dias passaram rápido, Gabriela não mais assistiu a TV, não mais ficou enfurnada em casa, não foi à academia e não fez dieta detox, mas estava tão feliz que seus olhos brilhavam como dois faróis, na posição alta, irradiando bem-estar e bom humor por onde passava. Quantas pessoas ela reencontrou pelo caminho, tantos amigos que ela pensava terem lhe abandonado quando na verdade foi ela quem se afastou de todos. Foi recebida com abraços, sorrisos, afagos, carinhos, por todos que reencontrava. Queria levá-los todos para viajar com ela, mas tinham compromisso e diziam que na próxima oportunidade, iriam sim, todos juntos.

      Um dilema deixava Gabriela triste e sem saber o que fazer. O que levar na mala? Na verdade, na véspera de viajar, Gabriela se deu conta de que não tinha mala decente para viajar. Comprou tantas roupas e sapatos que seriam necessárias duas ou três malas para caber tudo, sem amassar nada.

      Não importava isso agora, era só um detalhe. Gabriela, então, resolveu não comprar outra mala. Levaria naquela mesmo e com o mínimo de roupas possível. Iria para a praia, então o maiô seria o que vestiria a maior parte do tempo. Um sapato fechado, um chinelo, um livro e, claro, a foto dos filhos, para não morrer de saudades.

      Tudo arrumado, na manhã seguinte Gabriela embarcaria no ônibus intermunicipal, pois a praia ficava somente a 40 km de sua cidade. Não importaria a distância e sim ir, somente ir e voltar.

      Fim.



   

Um Beijo Gosmento

Participando da Blogagem Coletiva A Vitrine dos Sonhos
Vamos começar com Era uma vez... 

      Era uma vez uma linda menina, filha de camponeses. Rebeca vivia se adentrando pela floresta atrás dos pássaros e dos animaizinhos que corriam dela, com medo. Muito carinhosa, gostava de pegá-los, quando deixavam, claro, e apertava-os aos peito, beijando e acariciando suas cabecinhas.

      Um dia, Rebeca foi um pouco mais longe e chegou perto de um riacho com águas cristalinas. "Que lindo", exclamou a menina ruiva e sardenta, se ajoelhando na beirada e se olhando nas águas, se enxergando. Achou graça pois nunca imaginara que as águas seriam espelhos. Ficou tão encantada que, como se tivesse hipnotizada, foi se abaixando até encostar os lábios na água.

      Sentiu algo roçar seus lábios, macio e gelado, bem rápido. Se assustou, se levantou e levou as mãozinhas até a boca rosada. Se abaixou novamente e foi procurar o que tinha lhe roubado um beijo. Um sapo!

      Que nojo! Rebeca começou a esfregar o dorso da mão na boca, tentando limpar aquela linha gosmenta que ficara grudada em sua boca. De nada adiantava, pois quanto mais tentava limpar, mais a gosma ia crescendo, crescendo, crescendo até tomar todo seu corpo. Depois foi encolhendo, encolhendo, encolhendo até se transformar numa sapinha, a mais linda sapinha de todos os riachos. Os lábios continuavam rosados, os cílios bem grandes e curvados, o olhar meigo e um corpo verde com pintinhas marrons, como se fossem suas sardas.

      O sapo, ladrão do beijo, rapidamente tomou-a nos braços, levou-a para dentro do riacho e nunca mais voltou com a sapinha Rebeca.

      Dizem, os moradores mais antigos, que todos os enamorados que queiram conquistar um amor, bastavam tocar os lábios nas águas daquele riacho e depois roubar um beijo da amada, para assim o encanto permanecer por toda a vida, sendo felizes para sempre.

      Fim.


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O Segredo de Lisa Miller


Última Blogagem Coletiva do blog Café Entre Amigos. 
Vamos participar? Cliquem AQUI!

      Depois que todos foram se deitar, Lisa, descalça, caminhou na ponta dos pés para não fazer ranger o assoalho antigo do casarão da família Miller, abriu a porta e se foi, sem rumo.

      A noite estava fria, mas não caía neve, apenas uma neblina densa que dificultava enxergar a estrada coberta por flocos brancos, porém sujos e escorregadios. As botas pesadas de Lisa Miller ajudavam-na a caminhar sem se estabacar no chão e chamar a atenção de algum possível andarilho que sempre passava por aquela região. Lisa, já sabendo que exatamente naquele dia o clima estaria bom, não titubeou e seguiu seu destino.

      Desde que nascera, Lisa era uma criança especial. Com dons capazes de quebrar qualquer pedra de um coração duro e rabugento. Bastava um sorriso daquela criança e a pessoa já se derretia toda colocando para fora seu lado mais amoroso e terno. Não havia quem não se encantasse com a pequena Lisa, gorduchinha e de bochechas rosadas. Os olhos puxados e melancólicos davam a impressão de tristeza, mas nunca ninguém vira Lisa chorar por sofrimento. Chorava sim, como toda criança, mas por dor, por algum tombo, algum arranhão ou algum corte no dedinho miúdo. Inocente demais, pura ao extremo, mesmo com a indiferença de sua mãe, conseguia amá-la e acarinhá-la, sabendo que logo após levaria uma bronca e um puxão de orelha, dos fortes, provocando um vermelhidão ardido. Lisa olhava para a mãe, com piedade, se afastava segurando as orelhas com as pequenas mãozinhas frágeis e ia chorar na sua cama, que ficava num canto da sala, pois na casa não havia acomodações suficientes para todos. Os outros irmãos, todos homens e mais novos que ela, dormiam com os pais. Lisa, desde bebê, fora acostumada a dormir sozinha, na imensa sala com poucos móveis.

      Cresceu, conseguiu arrancar a pedra de gelo do coração da mãe, que se tornou voluntária num orfanato, e se foi.

      No caminho, naquela noite escura e não tão fria, Lisa Miller parou, observou se havia alguém por perto, olhou para a lua que brilhava imponente no céu estrelado, fechou os olhos e abriu os braços. Num sopro, os braços viraram asas, suas roupas comuns se transformaram numa camisola comprida e branca, brilhante como uma estrela, os cabelos se alongaram e ficaram ruivos, da cor do fogo e Lisa começou a flutuar.

      Sua missão estava cumprida. Viera especialmente para a redenção de um anjo do demônio que teimava em permanecer na Terra, há centenas de encarnações, arrancando todos os fetos que germinavam em seu ventre. Lisa Miller tinha como missão quebrar a ruindade daquela alma, com amor, atenção, afeto e caridade, até que a luz Divina invadisse sua alma e transformasse numa mãe caridosa, para muitos filhos, quase todos do coração. Assim fez, assim Lisa se foi!

      Não sentiriam sua falta, pois todo o histórico de sua passagem pela Terra seria apagado e ninguém nunca saberia que um dia existiu uma garotinha tão doce como um pão da vovó salpicado de açúcar de confeiteiro, que quando encostava na boca se lambuzava e grudava nos lábios, que depois se transformava no beijo mais doce que alguém poderia ofertar. Essa era Lisa, um anjo do amor.

      Fim.

domingo, 1 de dezembro de 2013

As Mulheres Pela Visão de Um Homem



As mulheres pela visão de um homem...Não importa o quanto pesa. É fascinante tocar, abraçar e acariciar o corpo de uma mulher. Saber seu peso não nos proporciona nenhuma emoção. Não temos a menor idéia de qual seja seu manequim. Nossa avaliação se dá de outra forma, isso quer dizer: se tem forma de guitarra... está bem.

Não nos importa quanto medem em centímetros - é uma questão de proporções, não de medidas. As proporções ideais do corpo de uma mulher são: curvilíneas, cheinhas, carnudas... Essa classe de corpo que, sem dúvida, se nota numa fração de segundo. As magrinhas que desfilam nas passarelas, seguem a tendência desenhada por estilistas que, diga-se de passagem, parecem odiar as mulheres e com elas competem. Suas modas são retas e sem formas.

A maquiagem foi inventada para que as mulheres a usem. Usem! Para andar de cara lavada, basta a nossa. As saias foram inventadas para mostrar suas magníficas pernas... Se a natureza lhes deu estas formas curvilíneas, foi por alguma razão e eu reitero: nós gostamos assim. Ocultar essas formas é como ter o melhor sofá embalado no sótão.

É essa a lei da natureza... que todo aquele que se casa com uma modelo magra, anoréxica, bulímica e nervosa logo procura uma amante cheinha, simpática, tranqüila e cheia de saúde.

As jovens são lindas... mas as de 40 para cima, são verdadeiros pratos fortes. Por tantas delas somos capazes de atravessar o atlântico a nado. O corpo muda... cresce. Não da de entrar, sem ficar psicótica, no mesmo vestido que usava aos 18. Uma mulher de 45, que entra na roupa que usou aos 18 anos, ou tem problemas de desenvolvimento ou está se auto-destruindo.

Nós gostamos das mulheres que sabem conduzir sua vida com equilíbrio e sabem controlar sua tendência a culpas. Ou seja, aquela que, quando tem que comer, come com vontade (a dieta virá em setembro, não antes); quando tem que fazer dieta, faz dieta com vontade (não se saboteia e não sofre); quando tem que ter intimidade com o parceiro, tem com vontade; quando tem que comprar algo que gosta, compra; quando tem que economizar, economiza.

Algumas linhas no rosto, algumas cicatrizes no ventre, algumas marcas de estrias não lhes tira a beleza. São testemunhas de que fizeram algo em suas vidas, não tiveram anos em formol, nem em spa... Viveram!

O corpo da mulher é o sagrado recinto da gestação de toda a humanidade, onde foi alimentada, ninada e, sem querer, marcada por estrias, cesárias e demais coisas que fizeram parte do processo que contribuiu para que estivéssemos vivos.

Portanto, Cuidem-no! Cuidem-se! Amem-se! A beleza é tudo isto.

Um texto para aumentar nossa autoestima. Lindo!
Paulo Coelho: alguns o amam, outros o odeiam. Eu gosto!


quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Rabit


Participando da Blogagem Coletiva do Blog A Vitrine dos Sonhos - 1ª Edição - Era Uma Vez.
Quem vem junto? Gostam de contar histórias?

      Era uma vez, uma menina que vivia no Castelo Mindus, em Jordão, um pequeno vilarejo.  Rabit era uma menina tímida, filha de uma mucama que ajudava a princesa Sophia, filha da rainha Ester. O rei, Leopoldo, havia falecido há pouco e como não tinham filhos homens, Sophia era a responsável pela boa ordem no Vilarejo.

      Rabit vivia pelos cantos, espiando todos os passos de Sophia e ficava imitando-a nos trejeitos, andando nas pontas dos pés, como se estivesse de salto alto. Pegava uns trapos e amarrava-os na cintura, imitando vários saiotes, como os de Sophia. Com uns restos de pergaminho, recortou com todo o cuidado, colou pedrinhas e fez uma coroa, que colocava majestosamente em sua cabeça e desfilava pelos corredores vazios do Castelo Mindus. Não podia ser vista, pois temia represália de sua mãe.

      Rabit cresceu, ficou linda e aprendeu a ler e a escrever. Porém, não tinha recursos para ter roupas e sapatos maravilhosos e brilhantes como os de Sophia. Continuava observando a princesa, pelos cantos, e imitava-a, toda orgulhosa. Seus cabelos ruivos e cacheados caíam majestosos sobre os ombros, descendo como cascata até à cintura, como se fossem molas se abrindo e fechando. Ainda tinha a coroa feita com pedaços de pergaminho, que guardava com todo o cuidado num lugar secreto.

      Um dia, Sophia percebendo o olhar curioso de Rabit, chamou-a até seu quarto, abriu seu armário, tirou alguns vestidos e deu-os a ela. Depois pegou um par de sapatos de salto alto, todo cravejado de pedras brilhantes e também deu-o para Rabit. Ela não aceitou, claro, mas seus olhos brilharam tanto ou mais do que aquelas pedras. Inconformada pela desfeita, chamou a mãe da moça, sua mucama, e disse que aceitasse as roupas, como presente, para Rabit. A mãe sem jeito, sempre de cabeça baixa, também disse que não podia aceitar, pois eram roupas caras e sua Rabit não tinha o costume de usar tanto luxo. Sophia juntou tudo e colocou nos braços de Rabit e disse que era presente e não podia recusar, pois era a princesa do castelo.

      Rabit e sua mãe, encantadas, saíram do quarto de Sophia, mal fecharam a porta e correram para os aposentos da mucama. Rapidamente Rabit se despiu e experimentou um a um os vestidos e colocou os sapatos brilhantes.

      Como não tinha o costume de usar saltos andou com dificuldade, mas depois de muitos treinos conseguiu desfilar elegantemente nos corredores vazios do castelo. A coroa não mais lhe cabia, o que a deixou triste, mas as roupas lhe fizeram formosa, e os sapatos lhe levavam às alturas. Imponente, linda e bem-vestida. Estava pronta para frequentar os bailes do Castelo Mindus e arrumar um pretendente. Já estava na idade de formar sua própria família.

      E foi o que aconteceu, Rabit foi ao baile, muitos olhos curiosos querendo saber quem era a moça ruiva com cachos em forma de cascata e logo foi cortejada por um príncipe de um outro vilarejo. Se encantaram um pelo outro, se casaram e Rabit foi ser a princesa do Castelo de Duane, com seu príncipe encantado.

      O Castelo de Duane não era tão formoso como o de Sophia, nem tinha corredores desertos e nem centenas de quartos ou salão de festas. Rabit não teria o luxo de ter sua mucama e nem condições de encher os aposentos com lindos vestidos e sapatos brilhantes, mas Robert, seu príncipe, era um príncipe apaixonado e tratava-a como como uma rainha. E viveram felizes para sempre.

      Fim.


quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Quando eu Crescer


Participando da Blogagem Coletiva do Blog M@myrene - 20ª Edição.

      Muito a contragosto, dona Mafalda sempre arrastava Fabrícia para que lhe ajudasse com as tarefas de casa. A pequena não gostava nada. Na verdade, dona Mafalda não queria desgrudar os olhos da filha, que não parava quieta e aprontava muito. Então o jeito era arrastá-la para todos os lados e para não ficar emburrada a mãe lhe contava histórias.

      Fabrícia ficava observando e fazia perguntas sobre o que a mãe contaria. Muitas vezes ela mesma criava personagens e terminava as histórias. Um momento que seria chato para uma garota que acabara de aprender a ler se tornava prazeroso com a criatividade da mãe.

      Um dia, dona Mafalda estendendo roupas no varal, antes de começar a contar mais uma história, perguntou para a pequena o que ela gostaria de ser quando crescesse.

      - Jogadora de futebol, mamãe - respondeu prontamente.

      - Jogadora, filha, por que? - perguntou curiosa, dona Mafalda.

      - Não gosto de bonecas e o papai não me deixa nunca brincar no campinho com os meninos. As meninas são muito chatas e só gostam de brincar de coisas que eu não gosto. Não tem graça ficar sentada no chão brincando. Não gostam nem de apostar corrida. Jogar bola é que é bom. - concluiu a pequena Fabrícia.

      Espantada, dona Mafalda terminou rapidinho de estender as roupas e correu para dentro de casa. Não sabia que atitudes tomar quanto à filha, pois meninas são delicadas, mimosas e nunca soube, pelo menos naquela cidade, de meninas jogando futebol. Onde será que Fabrícia viu garotas nesse esporte?

      Pegou uma vela e foi ao oratório pedir para Santo Antônio cuidar de sua menina, tão pequena, tão meiga e já querendo chutar o mundo por aí. Não suportava futebol. Seu marido só sabia assistir futebol na TV e agora mais essa, ter que aceitar a filha jogando futebol.

      - Santo Antônio do céu, pelo amor de Nosso Senhor, arranca essa ideia da cabeça da menina, por favor, por tudo que é mais sagrado! Onde já se viu uma mocinha indefesa querer jogar futebol com os meninos, Santo Antônio, eu estou certa, não estou? Tenho que preservar minha filha, sua integridade e seu futuro. Então, meu santinho amado, desvie essas ideias tortas da cabecinha avoada dela, tá bom? No seu dia eu prometo doar cinquenta pãezinhos para serem distribuídos para os pobres. Sua bênção, amém!

      Dona Mafalda não via a hora do marido chegar e contar a novidade. Teria que ser sem Fabrícia escutar, pois o tanto que o pai gostava de futebol era bem capaz de gostar da ideia e incentivar a pequena.

      - Melhor me agarrar com Santo Antônio. Este sim, não me falta nunca!

      Fim.



   

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Mulheres Sem Prazo de Validade


Uma querida amiga, Pauline, fará o lançamento do livro Mulheres sem Prazo de Validade.

Livro que terá lançamento carioca, na Livraria Argumento, no Leblon.
Dia 29 de novembro de 2013, às 19h.

Livraria Argumento - R. Dias Ferreira, 417 - Leblon
Rio de Janeiro - RJ
Tel: (21) 2239-5294


Apresentação do livro:

Difícil tarefa: olhar-se e ver. 
Quando estamos de frente para o espelho não vemos as costas. 
Logo nossa visão é parcial sobre nós mesmos. 

Já diria Glorinha Khalil, uma de nossas musas da elegância, que é preciso colocar um espelhinho para nos ver de costas e aí saber se o visual está realmente “ok.” 
Boa ideia, também podemos colocar um espelhinho em diversos outros lugares.

Esconderijos, onde enfiamos a cabeça para não ver aquilo que está na cara – nós mesmos. 
Aquele ser que conhecemos mesmo antes de nascer. 

Mentir para si por quê? Melhor descobrir-se, e já. Não para ficar com a “bunda de fora”, mas por que não adiantam as justificativas, nem fingir que não viu. Todo mundo vê o outro de forma tridimensional. De frente, de trás (como diria Rita Lee “eu te amo cada vez mais...”), somos nós mesmos. E vermos aquilo que somos sem mais rodeios faz parte do nosso caminho rumo à autoestima e à falta de medo diante do que quer que seja. 
Poder dizer: “sou eu – está bom ou quer mais?” 
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Veja tudo o que apronta essa moça, se não é uma grande mulher, admirável!

Nasceu no Estado do Rio de Janeiro e mora há 15 anos em São Paulo.
É formada em Ciências Políticas e Sociais pela PUC – RJ e em Psicologia pela Universidade São Marcos – SP. 

Durante 16 anos foi Redatora e Diretora de Criação em diversas agências do Rio de Janeiro, Curitiba e São Paulo, tendo recebido inúmeros prêmios por seus trabalhos em nível nacional. 

Escreveu dois musicais para crianças: “Bom Dia Alegria” produzido no Rio de Janeiro e encenado no Teatro da Galeria e “A Lâmpada Flutuante”, baseada na travessia de Amyr Klink, produzido no Rio de Janeiro e encenado no Teatro Ipanema e em São Paulo no Teatro do Vento Forte, todos dois aclamados pela crítica e pelo público. 

Frequentou por dez anos os seminários do Colégio Freudiano do Rio de Janeiro, aprendendo os conceitos de Lacan e também da Nova Psicanálise. 

Estudou Ecossistemic Family Therapy no Roberto Clemente Center, Gouvernuer Hospital, NYC, e trabalhou como Activity Therapist e Case Worker no Sylvia Del Villard Day Hospital Program. Hoje atualiza sua formação no seminário semanal do Psicanalista Rubens Molina, e atende em consultório particular.

Leitura mais que obrigatória. 
E não é só para mulheres não. 
Homarada também é bom de ler, para entender melhor o mundo das amigas, companheiras, mães, namoradas, filhas...

Post copiado do querido amigo Mauj Alexandre, do blog Lost In Japan. Querem conhecer o Japão via internet? Conheçam o blog dele!

"Livro bom me deixa contente, feliz mesmo.
Neurônios vibram com uma boa leitura.
Fora todo o aprendizado, o crescimento interior, a cultura...
Mundo bom que só um livro te traz.

Quantos livros não reúnem toda uma vida de estudos, pesquisa, suor, acertos, erros, fracassos... experiências de seus autores?
Tudo materializado em um tomo, prontinho pra gente pegar e digerir tudo. Facinho, facinho.
Coisa melhor que isso, existe? Claro que não!"

Mauj Alexandre Imamura

Sabor de Arco-Íris



Martha Medeiros nos conta uma experiência fascinante nesta crônica.
Claro que não lida todo dia com esse monte de crianças. 
Aí não seria fascinante mas atordoante!

Sabor de Arco-Íris


O assunto em pauta é literatura.
Semana do livro, Bienal do livro, lançamento de livros.
Aleluia!
Um dia a turma que não lê vai descobrir o que está perdendo.

Pois entre tantos eventos para incentivar a leitura, fui convidada a participar de uma que me deixou ligeiramente aflita: conversar com alunos de um maternal.
Eu já havia estado no colégio Anchieta conversando com a turma da minha filha mais velha, que tem 10 anos.

Agora o convite era para falar com a turma da minha filha mais nova, de 5, no Amiguinhos da Praça.
Fiquei imaginando como seria ficar cercada por um monte de baixinhos que mal sabem escrever o próprio nome.
Que perguntas fariam? Quantos segundos levaria para eles perderem o interesse nas minhas respostas?
Perigo: crianças!

Mas não amarelei. Chegando lá, sentei no chão, numa rodinha. Vários pares de olhinhos me examinavam. Não saí correndo. A tia perguntou se alguém queria fazer uma pergunta. Oba, vou ganhar tempo até um deles criar coragem, pensei. Todos levantaram o dedo. To-dos!

A partir daí foi uma festa. Passei meia hora na Terra do Nunca, bombardeada por um afeto e uma espontaneidade que me tornaram consciente de tudo o que a gente perde quando vira adulto.
Alguém perguntou se era verdade mesmo que o papel vinha da árvore. Se eu já tinha escrito um livro sobre dinossauros. Como é que eu fazia para dormir depois de ler uma história de terror.

Se era eu mesma que juntava as páginas para montar o livro. De onde vem a palavra certa. Por que meus livros não têm desenhos. Se dava para jogar futebol e ser escritor ao mesmo tempo. Qual o chiclete que eu mais gostava. Tu conhece a Disney? Meu pai é engenheiro. Meu pai não tem emprego. Minha mãe te adora. A minha faz macramê. Eu gosto de livro de amor e livro de monstro. Tenho 2 irmãos. Eu, 2 pais.

Ainda durante aquela tarde, ouvi minha filha dizer que pirulito tem sabor de arco-íris. E um menino, malandro, me perguntou o que eu queria ser quando crescesse. E eu lá quero crescer?

(Martha Medeiros em "Montanha Russa")

Recebi esse texto por email do amigo Roberto. Compartilho com vocês um pouco da ingenuidade e a inocência que perdemos tão rapidamente e nos esquecemos com o passar do tempo. Pena!



sábado, 23 de novembro de 2013

Bandido Celebridade

Foto veja.abril.com
"LÓGICA INVERTIDA
No Dia Mundial da Filosofia, seria bom que se pusesse fim a essa lógica invertida que parece dominar algumas cabeças "pensantes" por aqui: QUANTO MAIS LADRÃO, MAIOR A CONSIDERAÇÃO. Falei bobagem? Dá só uma olhadinha para a consideração que os mensaleiros estão tendo... Até parece que receberam uma honraria com a condenação. Se isso não é lógica invertida, então não sei o que é."
Um post do facebook, que a amiga Marli Soares Borges colocou para que pudéssemos opinar.
Esses dias estava conversando com minha filha a respeito de pessoas assim, que aprontam, mentem, roubam e mesmo assim ainda têm o seu valor, ainda são paparicadas, ainda têm atenção de todos e são até vistas como coitadinhas e vítimas da situação.
 Não sabia o que responder, então me veio à mente que pessoas assim precisam mais de ajuda do que os de bom caráter, íntegros. Isso é a pura lógica invertida sim, como disse Marli. É injusto, pois quem é bom caráter precisa de atenção e cuidados também. Por outro lado parece que quem é mau caráter é vítima de comoção, tanto boa quanto ruim, e é do ser humano querer ajudar de alguma forma, querer modificar a pessoa, transformando-a numa boa pessoa. Acho que isso é possível, se a pessoa aceitar a sugestão e mudar por livre e espontânea vontade. Não quer dizer que seus erros tenham que ser perdoados. Há um preço a ser pago e a justiça deve sim ser cumprida à risca. Mas a justiça no Brasil é cheia de falhas, de contornos e os advogados cada vez mais espertos para acharem brechas e modos de inocentar um grande criminoso. Privilégio para poucos, para endinheirados ou bandidos famosos, querendo pegar a carona da fama, mesmo que negativa, e assim ficarem na história.
Falando desse cidadão da foto e de mais alguns que, com certeza, não ficarão presos, a indignação é geral, mas mesmo assim, está ele todo pomposo com cara de paisagem, indo se tratar num hospital de elite. Alguém tinha dúvidas de que isso iria acontecer?
 A mídia ajuda muito a divulgar os podres de uns canalhas, mas atrapalha e muito! Um traficante poderoso que está preso não pode dar um passo que uma escolta gigantesca o acompanha. TVs do mundo inteiro ficam a postos à espera de um furo de reportagem e o assunto é discutido incansavelmente. 
 Me lembro daquele caso da garota Eloá que ficou cativa no apartamento sob ameaças do ex-namorado que não se conformava com a separação. A repercussão foi tão grande que vários programas de televisão queriam falar com ele por telefone e perguntar o porquê de sua atitude. Oras, bolas, porque é bandido, mau caráter, doente! Precisa perguntar? E depois umas das advogadas (sim, mesmo não tendo dinheiro suficiente, o indivíduo teve vários advogados), bem, uma das advogadas disse num desses programas que ele estava reclamando que tinha apanhado na prisão (...)
São tantos os casos que dá nojo, dá desânimo, revolta e estamos cansados de saber que quem faz as leis são eles que estão lá. Eles que aprovam, que escolhem, que redigem, enfim, o comando está nas mãos deles.
Na vida comum de gente comum também acontece o mesmo. Quantos filhos que são classificados como quietos e obedientes são esquecidos num canto enquanto o filhos problemáticos sempre têm a maior atenção da família? O que era para ser um incentivo para que, quem sabe, o problemático tome como exemplo o irmão quieto é um verdadeiro tiro pela culatra. Às vezes atitudes dos pais em ignorar o tímido, o normal, se preocupando mais com o outro está fazendo mal aos dois. Um por carência e indignação e o outro por ter a certeza de que para ter a atenção de todos basta aprontar muito, da pior forma possível.
Voltando aos políticos. Uma frase que também vi no facebook: "Político é funcionário público e deve ser tratado como um funcionário comum e não endeusado como de costume". É bem por aí mesmo, basta ser deputado, senador, presidente e lá vem o altar para subir. Sim, respeito é bom e todo mundo gosta, mas endeusar um político é a pior das atitudes de um cidadão.
Já me chamaram de alienada, que, por ser formadora de opinião (eu?), não poderia propagar certas coisas, mas tudo isso me dá nojo! Não tenho mais paciência para ficar escutando ladainhas e tudo virar a mesma bosta de sempre. Faço minha parte nas urnas, ensino meus filhos a pensarem, raciocinarem e só!
Não desejo o mal a eles. Sou cristã e por isso não me permito desejar o mal a ninguém. Eles mesmos se enforcam, se destroem. Talvez fiquem impunes na justiça dos homens, mas não sabemos qual o fim de cada um.
Então, continuo com o mesmo pensamento quando me chamaram de alienada: se não atingir a mim, minha pessoa, ou meus filhos e minha casa, que se danem todos! (Sei que atinge sim, já que roubam nosso dinheiro, mas acho que vocês entenderam o que eu disse).
Para aquela que me chamou de alienada, que briga tanto por um assunto que não a levará a lugar nenhum, lembro-a que dentro de sua casa tem gente que precisa de sua atenção, e que talvez por ela não ter tempo para prestar atenção e cuidar com carinho, ou mesmo ouvir e aceitar que nem todos pensam igual a ela, essa "gente" vai lhe escapando das mãos pela forma mais triste que existe. Falta de amor!
 
 

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Meu Primeiro Livro

Blogagem Coletiva da Irene Moreira, Blog M@myrene
19ª Edição. Vamos participar?

   
      Indecisa e por insistência de sua mãe, Lucimara não sabia qual livro ler primeiro. Pegou o mais fino para não demorar muito na leitura. Deu uma folheada e não viu figuras, mas já estava bom, afinal achara esse livro no banco da pracinha, em frente a sua casa. Apenas um bilhete dentro: "este livro não foi perdido e nem esquecido. Ofereço-o a você para que leia e passe adiante. Ele faz parte do projeto BookCrossing, que está na sua 7ª edição."

      Achou interessante alguém compartilhar um livro pois sempre foi muito ciumenta com suas coisas e nunca teve o hábito de ler livros. Pegava os resumos na internet e fazia as provas sobre o assunto, enfim, sempre achou um tédio ficar lendo, lendo, lendo...

      Era um romance de José de Alencar, A Pata da Gazela. Lucimara nunca ouvira falar desse escritor. Começou a leitura e não mais parou até a última página. Simplesmente amou!

      Se encantou com o modo que o autor descreveu a história, as palavras usadas, a emoção, a descrição era tão real que chegou a entrar na cena e visualizar as personagens.

      Ainda com o livro nas mãos, abraçou-o junto ao peito, fechou os olhos e ficou triste por ter terminado de lê-lo. Foi tão rápido!

      Foi até a estante e pegou um outro livro, agora mais grosso, empoeirado e com as páginas amareladas. Muito tempo sem abri-lo, coitadinho, ficou velho! Era essa a sensação de Lucimara com os livros antigos de sua mãe que sempre deu o exemplo da leitura, mas ela nunca havia se interessado.

      As conversas na internet, os passeios à toa com as amigas e as sorveterias ficariam em segundo plano. Queria viajar por mundos descritos, lugares inventados, planetas habitados e distantes, queria conhecer um vasto universo onde as palavras, uma do lado da outra, descritas e bem encaixadinhas, faziam emocionar. Um mundo de fantasia e realidade, vidas escancaradas, gargalhadas escandalosas, moças desfrutáveis, meninos-homens e um cenário que só conheceria folheando algumas páginas escritas. E nem se importava se haviam figuras ou não. As figuras não dizem com tantos detalhes como os escritores descrevem. Sempre fica alguma coisa a ser observada e os escritores sempre observavam esse detalhe.

      Uma pilha de livros já estavam na espera para serem lidos. Lucimara, ansiosa, devoraria-os um a um.

      Fim.
     

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Camponês Infeliz

Participando da Blogagem Coletiva da M@myrene, Momentos de Inspiração 18ª Edição. Uma delícia de blogagem. Vamos participar?

      O sol mal acabara de nascer e Hemily já estava sentada no parapeito de sua janela para saltar. Não tinha medo de altura e já fizera esta proeza algumas vezes. Cairia em cima de uma folhagem densa no formato de um muro que cercava toda a casa. Colocou mais dois saiotes para não se arranhar nos espinhos. A mala já estava escondida dentro desse muro verde que Hemily colocara no dia anterior, quando os pais estavam distraídos tomando o chá da tarde.

      O único perigo seriam os gansos começarem a berrar, mas Hemily estava acostumada, desde sempre, a brincar com os brancos desengonçados.

      Hemily era do tipo inquieta, muito além da época em que vivia, em pleno século XVIII. Não aceitava ordens e nem casamentos arranjados entre as famílias. Não suportava a ideia de conviver com um estranho e muito menos ter alguma intimidade com um homem porco e fedorento, como costumava descrevê-los.

      Com muita calma, olhou para o céu e vislumbrou os raios do Sol, espreguiçando e clareando o azulão da noite. Um dia que prometia muita agitação naquela mansão luxuosa da família Streiner.

      Hemily pensou em usar a charrete, mas faria muito barulho, então, com coragem, propôs fuga a um admirador camponês, somente para que ele carregasse sua mala. Depois o dispensaria na estrada, dizendo ter mudado de ideia. Mas cadê o moço que não aparece? Não seria fácil carregar uma mala grande e pesada tendo mãos suaves e finas de uma donzela princesa do castelo do rei malvado, como assim descrevia sua vida com seu pai enérgico e carrancudo.

      Caminhou pela estrada arrastando as saias e carregando a mala, bufando de cansaço. Não conseguiu nem chegar na porteira que daria para a estrada principal.

      Procurou uma sombra para descansar, se sentou em cima da mala e ali ficou esperando Rotsgarden, o camponês, aparecer. Não apareceu o infeliz. A sede apertava, a poeira da estrada e a ventania não seguravam seu chapéu na cabeça. Foi-se o chapéu. Uma prova importante para rastrearem e fossem procurá-la quando dessem por sua falta. Hemily estava tão exausta que nem se importou. Deixou que o chapéu tomasse seu rumo.

      Mas cadê aquele que se dizia apaixonado e que carregaria sua mala?

      Não apareceu o ingrato! Hemily, então, deixou a mala no pé de uma paineira e voltou para casa, resmungando, praguejando e chutando pedras que se atreviam a ficar em seu caminho.

      Chegou na casa grande e se lembrou que pulou a janela, portanto não teria como entrar na casa. Teria que esperar alguém abrir a porta e inventar uma desculpa qualquer para explicar como ela fora parar do lado de fora, assim de manhã cedo.

      Podia dizer que era sonâmbula, mas não acreditariam. Diria que caiu da janela, mas também não acreditariam porque perguntariam porque não chamou alguém para lhe socorrer. Diria que não sabia, que acordou do lado de fora, toda vestida e não tinha explicação, como se fosse uma amnésia momentânea. Reclamaria de dor na cabeça, subiria, dormiria o dia todo e ninguém a perturbaria.

      Se sentou na escadaria, cruzou os braços, o beiço ressaltado no lindo rosto angelical e esperou... Esperou... Esperou...

      A porta se abriu, seu pai, ainda em trajes de dormir, foi até Hemily, puxou-a pelo braço e arrastou-a até o quarto. As janelas já estavam trancadas e a porta também ficaria trancada por um bom tempo como punição por ela ter a ousadia de pensar em fugir. Chutz, o pai carrancudo, já sabia de toda a armação, pois o camponês havia lhe contado.
     
     Fim.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Presságio

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…

Fernando Pessoa

domingo, 10 de novembro de 2013

Mensagem Sem Resposta

No facebook:

Alguém comentou com um amigo muito querido que havia falado com Nilce na noite anterior, dizendo que ela estava cansada de viver e que já havia tomado vários remédios. Esse alguém mandara várias mensagens para Nilce, mas nenhuma fora respondida.

Tarde demais...

Não suportando a vida, os problemas, a solidão na multidão, Nilce se foi...

Espalhou tanto carinho, tanto afeto, sorrisos contagiantes mas sua vida real era dolorida demais para satisfazer e deletar suas dores... A vida pesava muito e fugir era a única opção que conseguia pensar...

Lá se foi Nilce para os braços do Pai...

Nilce Gibson, querida amiga virtual
 
Olha, não viemos a essa vida a passeio, temos sim um propósito de passar pelo que passamos, sofrer o que temos que sofrer, amar quem amamos, enfim, nada é por acaso.

Dores são individuais, assim como alegrias. Não dá para descrever os sentimentos de uma pessoa. Cada um sente de um jeito e de uma intensidade. Dores da carne geralmente se curam com medicamentos. Dores da alma, nem sempre conseguimos.

Às vezes o raciocínio é mais que um complô contra nós mesmos, querendo sair dessa zona de sofrimento, de angustia, nos levando a atos dramáticos contra a própria vida.

Não há o que fazer após esse gesto. Só oração, muita oração...

Mas há o que fazer enquanto se tem vida. Prestar atenção a quem está ao nosso lado, que convive conosco, as tristezas, os choros escondidos, o olhar perdido, as palavras estranhas... Saber ler nas entrelinhas, cuidar, ficar perto, dar atenção, carinho, ouvir, ouvir, ouvir... Sem julgar, sem tentar achar uma solução.

Não adianta tentar resolver o problema de quem sofre da alma doente. Não quer solução, quer atenção, quer gritar que está ali e precisa de algo, mesmo sem saber o quê.

Um abraço faz toda a diferença na vida... Coração com coração... E se puder, um beijo bem carinhoso, um afago nos cabelos, os polegares enxugando alguma lágrima pedindo socorro...

Olhar bem no fundo olhos e se fazer presente, de coração, de alma...

O ser humano é complexo e precisa ser observado, sempre.

Viver dói...

Pai de misericórdia, acolha essa alma sofredora, perdoe seus pecados e lhe dê um bom caminho espiritual.
Nossa Senhora, mãezinha querida, cubra com seu manto sagrado essa amiga que não suportou estar viva...
Amém!

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O Pavor Que Cega


Esta semana eu estava trabalhando e o telefone tocou. Era uma ligação a cobrar.

Era minha filha, aos prantos, mal conseguindo falar palavra por palavra. Só consegui ouvir que ela tinha sido roubada.

Gelei! Comecei a chamar o nome dela: "Amanda, onde você está? Roubaram o quê, o celular?"

Ela soluçava e só dizia que tinha sido roubada.

Ao fundo ouvi uma voz de homem que mandou ela colocar a cabeça pra fora, pegou e telefone e começou a conversar comigo: "Alô, a senhora é o quê dela?", perguntou o rapaz. "É a Amanda que está chorando?", perguntei, já tremendo e mal conseguindo falar. "É, sim senhora, ela foi vítima de um assalto e reagiu. Então coloquei ela dentro do meu carro. Ela me deu esse número e disse que a senhora não ia deixar nada de ruim acontecer com ela. Meu problema, minha senhora, é financeiro..."

Num impulso desliguei o telefone. Em seguida ele tocou de novo. Não atendi. Não conseguia nem respirar, tremia muito e tive que me sentar. Me levantei em seguida e comecei a andar de um lado para o outro. Não conseguia raciocinar. Tinha que ligar para alguém, tinha que ligar para o celular de minha filha, mas não me lembrava do número. Peguei a agenda e não conseguia folheá-la. Não me lembrava de nada e a única coisa que pensava era na minha menina chorando dentro do carro de um desconhecido.

Com muito custo consegui abrir na página com o telefone dela. Liguei e ela não atendeu. Menos mal, se tivessem roubado o celular, já o teriam desligado. Liguei de novo: "Oi, mãe".

Sentei, respirei fundo, engoli o choro e perguntei se ela estava bem e onde estava. Estava na faculdade, estudando, como faz todos os dias.

Ainda fiquei um bom tempo tremendo e com medo da minha impulsividade de ter desligado o telefone. E se realmente ela estivesse dentro do carro do cidadão? E eu desligando o telefone será que fariam algum mal a ela?

Não que eu seja antenada, ligada em tudo, principalmente nos perigos e nos trotes que acontecem, mas depois de um tempo percebi que a voz não era de minha filha, que o choro não era como o choro dela, enfim, no pavor, a gente não pensa, não raciocina e qualquer pessoa pode cair em armadilhas desses pilantras que só querem vida fácil.

Imagina uma pessoa idosa com problemas cardíacos, que tem o raciocínio lento, atendendo um telefonema desse?

Passou, graças ao bom Deus. O pavor é imenso e coração de mãe deveria ter vários corações espalhados pelo corpo, caso algum falhe, tem outro para substituir.

Um horror!



quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Não Tá Fácil Pra Ninguém

Participando da Blogagem Coletiva da M@myrene. 17ª Edição. Vamos participar?

      Querida Sofia,

      Sofia, hoje fui numa livraria comprar um livro de receitas pra dar de presente. Comecei um papo com o livreiro, que acho que é vendedor e lhe perguntei sobre os livros. Queria fazer uma pesquisa sobre como andam as vendas dos livros.

      Sabe o que ele disse? E acho que não estava brincando não, que livro de histórias, romances, não tem tantas vendas assim não, que nem os antigos famosos ele consegue vender. Me mostrou um monte de Machado de Assis. Depois me levou numa banca com os lançamentos e estavam todos lá. Ele disse que só os que saem na mídia é que são procurados e que o povo acha caro um livro custar vinte reais.

      Eu acho caro também, mas depois que comecei a escrever acho muito pouco. Quanto tempo temos que nos dedicar a escrever pro livro custar tão pouco? E olha, Sofia, que tinha livro pra caramba lá!

      Eu lhe disse que era escritora e que tinha alguns contos lançados numa coletânea, portanto nem era tão escritora assim. Ele disse que sim, que eu era escritora por ter lançado escritos meus, não importando como. Bem, se ele disse, quem sou eu pra contrariá-lo?

      Me mostrou algumas opções de livros que poderiam vender um pouco mais. Depois perguntei se eu lançasse um livro se ele compraria pra colocar na livraria. Ele disse que não podia fazer isso justamente porque não tinha saída. A única coisa que ele poderia fazer era pegar em consignação, mas que todos que ele pegou em consignação não vendeu nenhum! Então porque eu deixaria livro meu lá?

      Ele deu dois exemplos de livros que venderam muito: quando o Faustão faz a propaganda ou quando alguém do Big Brother lê e o país inteiro vê. Aí sim, vendem muito.

      Ele também disse que se for escritor da cidade, aí sim, que ninguém compra mesmo. Podem até se interessar, mas se for da mesma cidade, deixam o livro de lado e procuram outro. Que preconceito chato!

      Que coisa, heim, Sofia? Que banho de água fria que ele me deu! Será que no país inteiro é assim? Como é que vou me atrever a lançar um livro então?

      Sabe, Sofia, eu tenho essa vontade sim, de escrever um livro só meu, mas e se ninguém comprar? Vai ficar encalhado, assim como eu estou? Ninguém me quer e ninguém vai querer me ler também?

      O que eu faço. Sofia?

      Já sei! Vou escrever assim mesmo. Uma coisa de cada vez. Primeiro escrevo e depois procuro editora, depois sai a publicação e depois vou no Jô Soares com um cartaz imenso lançando meu livro lá! Será que pode? Será que o Jô é chato? O que você acha?

      Responde logo, por favor? Esse nosso hábito de escrever cartas é ótimo, mas fico muito ansiosa pra saber a resposta. Me responde no mesmo dia em que você recebê-la, tá bom?

      Como você está? Ainda namorando o Valdomiro? E o Antenor, ainda no seu pé?

      Me responde logo, certo?

      Beijos, saudades!


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Incesto

Mais uma polêmica de Walcyr Carrasco, Amor à Vida, Rede Globo, 21 h. 

Herbert é ou não é o pai de Gina?

Segundo Ordália, ele não é o pai de Gina, pois ele a teria abandonado, na juventude, e ela, descontrolada, começou a sair com vários homens sem ao menos saber quem eram. E eu pergunto: será que ela já não estaria grávida, sem saber, após ele a abandonar?

Veremos os próximos capítulos.

Mas fica aqui a polêmica. Por que tantos não conseguem sequer imaginar uma cena de incesto, ou de amor homossexual, ou de obesidade ou qualquer outra cena que foge dos padrões normais?

Vão dizer que novela influencia. Será mesmo? Será que uma pessoa muda assim, do dia para a noite, só porque assiste novela?

Quantas e quantas pessoas que sabem ou pensam que sabem suas origens quando na verdade não sabem? E se relacionam com alguém que poderia ser seu irmão, ou irmã, ou pai, como é o caso de Gina, existe o crime mesmo não sabendo?

Se procurarmos histórias em todos os cantos do planeta, certamente saberíamos de casos semelhantes. Pai com filha, irmão com irmã (isso já foi notícia), enfim, parentes próximos que se apaixonam sem saber suas origens.

E falar sobre esse assunto assusta sim, é polêmico, incomoda mas é a realidade, querendo ou não.

Não é comum, claro, mas existe incesto sim. E por que não falar publicamente sobre o assunto?

Pessoas nascem com a certeza de quem é a mãe, mas nem sempre com a mesma certeza de quem é o pai.

Um caso para se pensar na falta de responsabilidade de alguns em gerar um ser e sabe-se lá o que virá ou quem encontrará pela frente durante a vida. A vida dá voltas, nos surpreende, nos decepciona e o inesperado sempre acontece.

E fica a culpa. Que culpa se os envolvidos são inocentes?

É muito grave isso, não é?

Não condenem o autor, é corajoso o suficiente para debater esses assuntos que a sociedade abomina mas que é vítima tanto quanto.

É conversando que se chega a um denominador comum, é conversando e discutindo que leis são aprovadas, é se sentindo horrorizada que percebemos que o mundo é enorme, redondo, e tudo pode voltar a se encontrar nas situações mais inesperadas.

Conto uma história real: uma mãe sempre perguntava à filha com quem ela estava namorando ou se relacionando. Investigava tudo, nome e sobrenome, nome do pai, enfim, um segredo guardado a sete chaves. Para a menina era apenas uma preocupação e um interesse de mãe, mas para a mãe era uma bomba relógio que poderia explodir a qualquer momento, pois sabia que o pai que a filha acreditava ser seu não era o biológico. E aí? Será que a filha sempre falava a verdade para a mãe sobre seus relacionamentos?

É um horror, não é?


quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Passado Presente


Participando da Blogagem Coletiva Momentos de Inspiração - 16ª Edição. Blog da M@myrene.

      Quinze anos e parece que foi ontem. Valmir, meu irmão querido, tão jovem e que fez o desfavor de ir antes de nós.

      Me lembro dessa foto perfeitamente, quando ele, insistentemente, nos fez ir até o matagal que ficava atrás da casa só para tirar uma foto de recordação. Ele queria fazer um poster e colocar na sala de visitas. Um sonhador, um romântico, um batalhador e talentoso em tudo que pusesse a mão para fazer.

      Tá certo que tinha aquele maldito temperamento de querer saber de tudo, e sabia de muita coisa mesmo, era topetudo demais para ficar calado quando algum assunto, seja qual fosse, era tema nas rodas de amigos ou de familiares. Estávamos tão acostumados a ele que nem precisávamos procurar respostas em lugar nenhum, ele sabia na ponta da língua. Uma das poucas coisas que não conseguia guardar era o dia do aniversário de mamãe.

      Certa vez, nós todos almoçando para comemorar o aniversário de mamãe, ele chegou e nem percebeu a festança ao redor da mesa. Pratos especiais, vinho branco, carne assada - raramente tínhamos carne assada - e um bolo confeitado que estava em cima da geladeira. Mesmo vendo toda essa algazarra não percebeu do que se tratava. Teve que perguntar, atitude rara, e receber nas fuças uma bronca de todos sobre seu esquecimento. O sabichão ainda teimou dizendo que não era aquele dia não, que seria no próximo sábado! Outra bronca nossa, alguns tapas nas costas, na cabeça e um empurrão na cadeira, para ver se ficava sentado e em silêncio. Nesse dia todos ganharam dele. Mas como era gente da paz levou tudo na brincadeira, disfarçando dizendo que estava testando todo mundo. Mais uma chuva de tapas na cabeça desse inconformado em perder algo, mesmo que fosse no par ou ímpar.

      A última foto que ele tirou de minha irmã mais nova e eu está num lugar especial, na estante da sala. Somente ela e dois solitários com rosas cor de rosa, um em cada lado do porta-retratos. A última foto expressa exatamente como Valmir era: ousado, mandão, destemido e talentoso. Só não contava que nosso pai estava atrás tirando uma foto dele tirando nossa foto. Essa foto especial está no quarto de mamãe, no criado-mudo, sobre uma toalha branca de crochê, do lado de um abajur e de um copo d'água.  Antes havia uma vela sempre acesa, mas com o passar dos anos, convencemos mamãe a colocar a vela num local menos perigoso. Com muito custo ela concordou. Nem sempre está acesa, pois quando ela está dormindo ou quando sai de casa, apagamos a vela. Nunca se sabe o que pode acontecer com uma vela acesa. Mas basta mamãe voltar para reacendê-la e fazer suas orações.

      A saudade dói demais e o tempo não a cura, não a arranca de nosso peito, apenas sobrevivemos sem Valdir na esperança de um dia nos reencontrarmos e matar toda essa agonia e sofrimento.

      Faz quinze anos, mas ainda sentimos sua presença pela casa, dando ordens, resmungando, cuidando de todos nós com muito carinho.

      Ele está num bom lugar. Temos certeza!

      Fim.