terça-feira, 3 de abril de 2012

Voltas - Parte II

Continuação...

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Passaram os dias e o namoro de Cíntia e Marcelo engatou de vez, o que me deixou muito feliz. Perdi minha companheira de bailes, mas ganhei mais um amigo, e agora saíamos em grupinhos. O casal sempre ficava nos cantos, namorando, e nós todos dançando, no centro do salão. Eles realmente estavam muito apaixonados; um grude só, mas mesmo assim continuavam a sair com a turminha.

Dias depois, chega Cíntia em minha casa, aos prantos, desesperada, desnorteada, querendo morrer, sumir, desaparecer. Disse que terminou o namoro porque Marcelo engravidou a ex-namorada - antes de começarem a namorar - e agora teria que se casar com ela.

Naquela época ainda era assim: engravidou tinha que casar.

Abracei minha amiga e ficamos um bom tempo ali, ela chorando e lamentando. Podia imaginar a dor que ela sentia, pelo sofrimento demonstrado, pelos soluços e pela carência de afeto. Minha amiga sofrendo sua primeira dor de amor e eu não sabendo o que fazer. Não tinha o que fazer, apenas aceitar a situação e seguir em frente.

Pedi permissão para meus pais e fui passar a noite com Cíntia em sua casa. Não dormimos a noite toda e no outro dia fomos à escola, mas não entramos para assistir as aulas. Fomos dar umas voltas no centro da cidade. Fazíamos isso às vezes, mas sempre ríamos muito de um homem que sempre ficava por ali, atirando pedras nos moleques que mexiam com ele: Geraldo Pelotão, uma figura lendária da cidade. Diziam que ele não conseguia dormir se nenhum moleque não mexesse com ele, e xingava a molecada, tacava pedras, mas nunca acertou nenhuma, porque moleque corre e Geraldo era um senhor com seus setenta anos, chapéu e cigarro de palha e muito querido por todos.

- Vorta aqui, seus muleque! Vorta aqui que eu vou batê nocêis tudo! Vorta! Seus iscumungado! - gritava ele com todos aqueles moleques que ficavam correndo, de longe, rodeando ele e gritando seu nome.

- Ô, Pelotão! Vem pegá nóis! Aqui ó! - e saíam correndo e rindo.

Cíntia não se conformava com meninos provocando Geraldo Pelotão:

- Por que ninguém ajuda o Geraldo, meu Deus? Coitado do homem, fica tentando correr pra pegar esses moleques que não têm mais o que fazer... - e dava uns gritos com os meninos, quando estes passavam por nós - Ô menino, larga o Geraldo em paz! Vai correr pra lá! Que coisa!

- Mas deixa ele em paz, Cín... Não tá vendo que ele se diverte com esses moleques? Olha lá a cara dele de satisfação! - respondia, defendendo a brincadeira deles.

Isto fez com que nos divertíssemos um pouco, apesar de ficarmos meio receosas de alguma pedra acertar na nossa cabeça. O dia estava lindo, sol brilhante e a fonte no centro da praça estava ligada, e à medida que o sol batia, formava um pequeno arco-íris de encher os olhos de quem passava por lá.

Dois meses depois, chegou o dia do casamento de Marcelo. Dei um jeito de levar Cíntia para bem longe, numa cidade vizinha, na casa de uma tia. Ficamos lá o sábado e o domingo.

Cidade pequena, gente simples, uma única praça no centro da cidade, com uma igreja, vários bancos, e um coreto onde alguns músicos ainda tocavam. Nos divertimos muito nesses dois dias. O calor era infernal, a terra vermelha deixava nossos pés encardidos, mas a comida de minha tia feita no fogão à lenha, valia por qualquer tristeza.

Cíntia já tinha até se conformado em perder aquele que ela imaginava ser sua alma gêmea.

- Eu não acredito em alma gêmea, Cín, acho que cada coisa acontece num determinado momento da vida. - tentava consolar Cíntia.

- Mas eu amo ele demais... Como é que eu vou suportar viver sem ele? - respondia toda chorosa, decepcionada e ainda com um restinho de esperança de tudo isso ser um sonho.

- E se a gente matar a mulher dele? O que você acha? A gente mata e joga o corpo num rio qualquer. Ninguém nunca vai saber. Aí você se aproxima de Marcelo de novo e se casa com ele. - comecei a falar e Cíntia me arregalou os olhos.

- Tá doida, Bete? Bate na boca três vezes! Eu, heim... - respondeu toda preocupada.

Não aguentei e comecei a rir. Pelo menos ela parou com aquelas lamúrias todas. Consegui arrancar um sorriso daquele rosto lindo, comum, mas lindo.

Voltamos para nossa cidade e a vida seguiu, um pouco triste para Cíntia, mas com a nossa turma dos bailes sempre  unida.

A pior situação não poderia acontecer, mas aconteceu: Marcelo se mudou com sua esposa para a rua de baixo da casa de Cíntia. Isso foi torturante demais.

Continua...

10 comentários:

  1. Caraca, vai durar a semana inteira o sofrimento rsrsrs Vamos ver.
    Beijos.

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  2. Bom Dia!!!
    Coitadinha da Cíntia, na rua debaixo, é muito perto, é muita tentação!!! Isso dá um livro Clara, de romance!! rsrsr bjs

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  3. Puxa, coitada da Cíntia que agora estaria pertinho dele ,.mas ele com a mulher.

    Quero ver o fim,srrs... Já imagino daqui! beijos,chica

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  4. Oi Clara, história bem interessante. Concordo com o comentário da Vivian, dá um livro! Rsrsrsrs.

    Abraço, saúde e muita paz.

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  5. Huuummmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm!!!!

    Oto gostando muito!!!

    beijuxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx...

    KK

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  6. Misericórdia! Essa Cintia sofre demais. Quero saber o resto da história logo!
    Beijos
    Adriana

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  7. Oi,
    coitada da Cíntia, meu Deus! Tô doida pra saber o resto...
    Beijos
    Chris
    http://inventandocomamamae.blogspot.com.br/

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  8. Coitada da Cintia... Como sofre!...
    Beijos.

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  9. Olá, boa noite, como está?
    Nestas estórias...
    há sempre interesse em saber o que vem a seguir.


    Desejo-lhe uma excelente quadra pascal!

    Bjssssss

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  10. OLÁ,querida amiga Clara
    Estiva ausente pela Quaresma...

    "Renovar
    Perdoar
    Esquecer
    Corações aquecer!!!"
    (Orvalho do Céu)

    Páscoa é:


    "Coragem é a resistência ao medo,
    domínio do medo,
    e não a ausência do medo."
    (Mark Twain )

    SAIR DO PRÓPRIO TÚMULO

    Jesus libertou-me... enviou-me anjos para me soltar das amarras que me prendiam...

    Apóstolo Pedro: “precisamos dar razões que justifiquem a nossa Esperança” (1Ps 3,15).

    FELIZ PÁSCOA PARA TODOS NÓS!!!
    Abraços fraternos de paz

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